sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Por que Arte Pública?

por Luiz C. Checchia




O mundo vive um intenso processo de grandes mudanças. E embora eu creia que elas sejam, ao final das contas, mais um agito barulhento do que o anúncio de radicais transformações, o abalo global provoca algumas pertinentes e profundas reflexões. E espero que estas provoquem tantas outras ações.
Uma das primeiras reflexões que surge no horizonte é: não é mais possível avançarmos como uma sociedade saudável se mantivermo-nos mergulhados no "atomismo" comum à lógica capitalista. O atomismo é essa tendência ao isolamento, ao individualismo, tão comum hoje em dia. Sei que muitos dirão: "como isolamento? Tenho tantos amigos, vou a tantos lugares, vejo e converso com tanta gente!". Sim, tudo isso costuma ser verdade, temos uma vida social bem agitada hoje em dia graças a um economia mais estimulada, às redes sociais etc Mas, por outro lado, "nunca antes na história deste país" a busca por problemas de cunho social tem encontrado soluções tão individuais! Vejamos alguns: não temos um transporte público de qualidade? Ora, que cada um compre seu carro, tá tão fácil!; não há serviço público digno? ora o remédio e comprar um plano de saúde; faltam vagas nas universidades públicas? Que pague uma particular quem puder...e por aí vai. Devem ter percebido, pelo exposto, que quanto mais as soluções se individualizam, tanto mais elas implicam "eu posso tudo o que quiser, desde que possa pagar por isso."

Enfim, impera entre nós algo como "estamos juntos, mas se a coisa apertar, é um cada um por si amigável, ok?"

Creio que é nesse ponto que a questão da arte pública encontra com sua mais profunda e necessária demanda. Se desde o governo Lula temos avançado muito nas questões econômicas, permintindo que uma descomunal multidão de empobrecidos pudesse, pela primeira vez, tornar-se consumidores, é preciso que tais pessoas também tornem-se cidadãos. E não apenas na acepção burguesa do termo, mas numa interpretação plena, progressista, de radicalização democrática. cidadania significa a convivência com o contrário, com o diferente, a crítica e a auto-crítica construtiva, o exercício da colaboração e da solidariedade.

Epara isso é preciso a reelaboração simbólica constante, em outras palavras, significa rever, revisitar e ressignificar valores, crenças, práticas. Significa promover a arte do encontro civil, e não somente público. As pessoas, nós todos, necessitamos compartilhar experiências estéticas/éticas (pois estética e ética são indissociáveis) que nos provoque reflexões, risos, apreensões, interpretações. E precisamos que isso seja feito no coletivo, para que possamos olhar os estranhos ao lado, e o mundo que nos cerca, com novos olhos. Que possamos, ao fim da experiência estética/ética perceber as relações com novas e revigoradas inquietações.

E tais práticas precisam ser constantes, cotidianas. E não podem ocorrer no âmbito da mercadoria. Por que toda e qualquer mercadoria, além do valor de uso, implica também um valor de troca, e as trocas são realizadas sempre, e sempre serão, tendo como referência o "poder" de troca de cada pessoa. Ou seja, o "quanto você pode pagar" pelo que quer levar. Mas se formos divididos, logo de cara, por "poderes de compra", como a experiência estética poderá promover a arte do encontro entre as pessoas que compõe a sociedade? Que reelaboração estética poderá promover, senão a reprodução das idéias já estabelecidas e aceitas por quem pode pagar? afinal, se preciso do dinheiro de quem paga, não seria prudente dizer que o ele não quer ouvir...

Assim, apenas a realização da arte pública pode assegurar a construção de uma nova sociedade. Somente por meio da elaboração e a reelaboração não "mercadologizada" dos signos e símbolos de nossa cultura podemos nos transformar de consumidores em cidadãos plenos. Por isso, defender a arte pública, em detrimento da arte mercadoria, é dar condições para que o ser humano torne-se, cada vez mais, humano.


Referências bibliográficas:
modernidade Líquida, Zygmunt Bauman
Educação e Reflexão, Pierre Furter

sábado, 17 de dezembro de 2011

Uma Nova História

A Cia Teatro dos Ventos está em Hortolândia, interior de SP, participando do 3º Fórum do Interior: Artes e Políticas Públicas. Esse encontro é fundamental para o teatro paulista porque está congregando artistas de teatro de diversas cidades do interior, grande são Paulo e litoral, e seu principal objetivo é marcar um ponto de partida para a luta por novas e mais justas políticas públicas para essas regiões do estado de SP. Na verdade, indo mais além ainda, trata-se de construir novos olhares e percepções para a produção cênica de todo o estado, dignificando-a.

É importante salientar que há um esmagador desnível no acesso de verbas, programas e editais entre essas cidades e a cidade de São Paulo. E embora se costume usar o fato da produção paulistana ser muito maior que a do restante do estado (justificando maior aporte de verbas públicas), também é preciso perceber que a dificuldade de acesso a tais verbas, programa e editais impede o crescimento e a manutenção da realização artística nas demais cidades. Portanto, mais do que a ampliação das atuais políticas públicas, é preciso que se desenvolva uma nova lógica para elas. É preciso que se busque corrigir tal distorção histórica. É preciso que as políticas públicas sejam pautadas no sentido da democratização do acesso a recursos e programas, que as circulações de espetáculos sejam mais que um passar sem troca estética e ideológica de grupos e artistas pelas diversas cidades do estado e, por fim, que viver de sua arte, em sua cidade, seja uma opção real para cada artista do estado de São Paulo.

Todavia, tais conquistas fazem parte de uma luta que será constante, como bem disse a diretora Tiche Vianna de Campinas. Por isso, é fundamental que se fomente em cada cidade do estado de São Paulo discussões, debates e reflexões envolvendo tantos os artistas quanto os produtores, os grupos, e os apreciadores de teatro. A Cia Teatro dos Ventos, em Osasco, sua cidade, tem provocado e participado de debates e reflexões junto aos coletivos Arte na Pólis e Multirão Cultural na Quebrada; e, mais recentemente, tem se empenhado na formação de nossa setorial de teatra.

Enfim, muito o que fazer, e um mundo inteiro para mudar.

O momento é esse e a hora é já!!


domingo, 11 de dezembro de 2011

ORGANIZAÇÃO DA SETORIAL DE TEATRO DE OSASCO

A Cia Teatro dos Ventos participou da primeira reunião de organização da Setorial de Teatro da cidade de Osasco. Importante organização da sociedade civil, as setoriais têm como missão debater e apontar demandas e perspectivas das linguagens artísticas, enriquecendo o debate junto ao Poder público e ao Conselho de Política Cultural. Nesse primeiro encontro tivemos representações de 05 grupos teatrais, do Mutirão Cultural na Quebrada e a presença de dois conselheiros do ComCultura, e o seu resultado foi O documento abaixo:
 REUNIÃO DE ORGANIZAÇÃO DA SETORIAL DE TEATRO DA CIDADE DE OSASCO
Artista de teatro reunidos na Escola de Artes, no dia 10 de dezembro de 2011, no intuito de organização da setorial de teatro da cidade de Osasco, em discussão sobre demandas para o teatro da cidade, debateu e levantou como prioridades e propostas:
 - Curso profissionalizante de teatro e convênios com entidades de formação (ex: SP Escola de Teatro e outros);
- Programa permanente de reciclagem para os profissionais de teatro;
- Criação de logística para produção cultural de artistas locais, envolvendo transporte, espaço para ensaios e guarda de material, entre outros;
- Lei de fomento para grupos com dotação orçamentária própria;
- Criação de um programa de valorização a iniciativa cultural independente (modelo: programa VAI do Município de São Paulo);
- Programa de investimento público em cultura, no qual para cada R$1,00 (hum real) investido na contratação de artistas de renome na grande mídia, serão investidos R$0,30 (trinta centavos) na contratação de artistas locais, e R$0,20 (vinte centavos) para o fundo de cultura;
- Reforma e adequação de equipamento dos espaços públicos de apresentação e espetáculos;
- Elaboração de estudos para o desenvolvimento de formas alternativas de economia solidária entre Artistas, Poder Público e Iniciativa Privada (modelo: Agência Solano).
 Próxima reunião de preparação da setorial de teatro de Osasco: 07 de janeiro de 2012, as 09 horas

Ainda há muito o que debater e aprimorar, esperamos contar com a presença de mais e mais artistas na próxima reunião!!! Até lá!!!


sábado, 3 de dezembro de 2011

Sobre o Conselho de Política Cultural de Osasco

Esse texto foi publicado no grupo Teatro Osasco, no Facebook....

APENAS UM COMEÇO, MAS QUE COMEÇO...

Domingo passado elegemos nossa primeiro conselho de política cultural de Osasco, o ComCultura. Depois de décadas de vazio cultural em Osasco (ressalvando, como sempre faço, a primeira gestão do Urban, que trouxe importantes avanços não continuados), demos importante passo para novas formas de relação cultural/artística na cidade. É claro que um conselho não res...olve nada por si se ele não for composto por pessoas comprometidas com as causas culturais; felizmente esse primeiro grupo de conselheiros é formado por gente comprometida. Além disso, combina integrantes experientes com outros bem jovens. é importante ressaltar que a participação de jovens no ComCultura foi a principal bandeira do Coletivo Arte na Pólis, e que me parece alcançada. Essa defesa da juventude por parte do Arte na Pólis (e minha em particular), deve-se, sobretudo, porque as transformações sociais sempre necessárias acontecem graças ao ímpeto comum à juventude, à sua gana e obstinação em mudar o mundo.

Mas não devemos cair na esparrela de que tudo será flores no ComCultura. Esse conselho tem a saudável pluralidade de posicionamentos e visões, que certamente estarão em debate entre os conselheiros. Espero que alguns temas deixados de lado pelas autoridades culturais e pelos "notáveis" da cidade passem a constar da agenda do ComCultura, como leis específicas para o teatro de grupo e de fomento, olhar para modalidades teatrais que não vivem de venda ingressos (como o de rua), a instituição de cursos adequados e profissionalizantes tanto de teatro como de circo, entre muitos outros.

Por outro lado, não devemos esperar que brotem espontaneamente tais discussões das cabeças dos conselheiros. Tais temas devem surgir da sociedade civil organizada. Não devemos esquecer que um conselho é formado por governo e sociedade civil, e que será muito comum que entre eles existam interesses divergentes (afinal, os terríveis anos que a cultura da cidade viveu fez parte de acordos partidários interessantes ao governo, mas não a nós, artstas, que sentimos na carne as suas consequências). Por isso, é fundamental que passemos a organizar os setoriais de cultura o qto antes. E é por isso que já convido todos os teatreiros a nos encontrarmos, semana que vem, para pensarmos e estruturarmos nossa setorial de teatral. apenas os artistas unidos podem dar força e legitimidade aos nossos conselheiros. Por isso, como instrui o ministério da cultura, é fundamental a organização das setoriais. Vamos nós, organizar a nossa de teatro!!!

Abços a todos